Texto de Estudo

Atos dos Apóstolos 1:8:

8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

INTRODUÇÃO

Nesta lição vamos estudar o grupo dos dons de Poder. Estes dons, também espirituais, são a confirmação do Evangelho genuíno que culmina na salvação do homem. São dons que resultam em ações sobrenaturais como sinais, prodígios e milagres. A igreja verdadeira é a aquela que prega o Evangelho de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo, por isso é importante conhecer os verdadeiros dons de poder para discernir, em meio à explosão de sinais e milagres que temos visto em nossos dias, o que é verdadeiro do que é falso.

Que este estudo não venha apenas trazer conhecimento, mas que seja uma luz no esclarecimento de um tema que é muito falado, procurado, entretanto, pouco compreendido.

 

SOBRE OS DONS DE PODER

Sabemos que o Evangelho é o poder de Deus, então é natural que a sua mensagem seja acompanhada e confirmada por sinais, maravilhas sobrenaturais que testificam deste Evangelho e lhe conferem autenticidade divina. Os dons de poder são tão importantes quanto os demais dons ministeriais. Entretanto, há um papel de destaque para eles, principalmente no início do Evangelho, que se pauta na vida de Cristo e seus discípulos. 

Jesus, enquanto esteve aqui na Terra, demonstrou que sua intenção não era trazer apenas mais uma corrente filosófica. As nações de sua época já tinham conhecimento das filosofias gregas introduzidas por Platão, Aristóteles e outros. Religiões como o Budismo, o Hinduísmo, o Xintoísmo e outras correntes dominavam o Oriente. O judaísmo se consagrava como religião predominante na Palestina, entretanto, não eram feitos sinais poderosos e impactantes que implicassem em transformação na vida de seus adeptos e nem naqueles que pregavam seus ensinos. Jesus inicia seu ministério de uma forma diferente, já de início transformando “água em vinho” (João 2:10). Posteriormente curou cegos, paralíticos, lunáticos e fez o que nenhum outro líder havia feito antes. Seus discípulos eram também acompanhados e reconhecidos por tais sinais e maravilhas. O cristianismo se apresentou como um movimento do Espírito Santo marcado pelas suas manifestações poderosas. 

O objetivo final da dádiva dos dons de poder à igreja cristã era que ela testificasse a respeito de Cristo, como bem foi feita a promessa: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (Atos dos Apóstolos 1:8 grifo nosso). E isso traz à tona o seguinte conceito: os dons de poder são a manifestação do Espírito Santo no homem que tem como intenção testemunhar Cristo ao mundo. Isso ajuda a explicar a afirmação que foi proposta na introdução do nosso estudo. A igreja verdadeira opera os dons de poder com o fim único de testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo e não divulgar o nome do seu líder ou denominação.

Os dons de poder são classificados em três: dom da fé, de cura e operação de milagres ou maravilhas. A seguir vamos estudá-los de uma maneira introdutória, tentando esclarecer os seus conceitos e resultados.

 

A FÉ

“A outro, no mesmo Espírito, a fé” ( 1 Coríntios 12:9a). A palavra fé (do grego pisteuõ) é a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está no comando de tudo, e de que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua palavra é a verdade”.  É importante destacar que a fé como dom de poder não é a mesma fé para a salvação, mas é a fé que tem inteira convicção e confiança de que Deus pode agir no sentido de se obter um bem ou graça que se pede em oração, a ponto de crer que já se tem recebido (Marcos 11:24).  A fé salvífica deve estar presente na vida de todo cristão, pois esta é concebida quando reconhecemos a salvação como o dom de Deus, conforme o texto: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2:8). Muitas pessoas ficam frustradas porque não recebem ou operam milagres e acabam concluindo erroneamente que não têm fé. A fé essencial para a vida do cristão não é aquela que opera milagres, mas aquela que opera a salvação, ou seja, a fé salvífica revelada na graça de Deus ao mundo ao ter entregado Jesus à morte para nos salvar.

Frequentemente associamos ou confundimos o dom da fé com curas milagrosas. Todavia, o dom da fé se manifesta de diversas maneiras. Temos já no Antigo Testamento exemplos da fé como um dom operando milagrosamente, como no caso da fé milagrosa de Elias ao enfrentar os profetas de Baal (1 Reis 18:33-35), e no Novo Testamento vemos esta fé como a “capacidade de inspirar fé nos outros”, como fez Paulo a bordo do navio que enfrentava uma tempestade (Atos dos Apóstolos 27:25). Isso não quer dizer que o dom da fé não possa trazer cura sobre aquele que o possui, como no caso da mulher que por tamanha fé foi curada de uma hemorragia que a afligia por mais de doze anos (Marcos 5:25-34). Muitos enfermos tocaram Jesus naquele momento, mas somente aquela mulher, através de sua fé, recebeu a cura. 

Uma das características daquele que tem o dom da fé é a autoridade. É uma fé que não deixa qualquer resquício de dúvida. Vemos isso nas ações de Jesus ao amaldiçoar a figueira (Marcos 11:14) e na autoridade de Pedro ao ressuscitar Tabita (Atos dos Apóstolos 9:40). Em ambos os exemplos, o poder da fé está relacionado à oração. No caso da figueira, Jesus afirma aos seus discípulos que “tudo o quanto em oração pedires, credes que recebestes” (Marcos 11:24) e que tal fé era capaz de “remover montanhas”, se no coração não houvesse dúvida. Já no caso de Pedro, o milagre da ressureição tem como princípio os joelhos do apóstolo dobrados em oração. Uma vida íntima e intensa de oração é uma qualidade presente na vida daquele que exerce o dom da fé.

A fé, como dom de poder, é sobrenatural e especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o cristão a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas para a glorificação do nome do Pai, como está escrito: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1 Coríntios 12:7).

 

DONS DE CURAR

“E a outro, no mesmo Espírito, dons de curar” (1 Coríntios 12:9b). Como acontece no dom da fé, o dom de cura pode ser confundido com o dom de milagres ou maravilhas, embora a cura de uma enfermidade também seja uma manifestação milagrosa. Entretanto, o dom de cura operando na vida do homem se manifesta apenas na forma de restabelecimento da saúde do enfermo. 

Quando Paulo oferece aos coríntios a lista de dons espirituais (1 Coríntios 12:8-10), ele afirma que há “dons de curar”. Não há uma unanimidade entre os estudiosos quanto a esta afirmação. A pluralidade nos dons de curar parece indicar que há pessoas que têm o dom de orar por determinadas enfermidades e outras para interceder por outros tipos de doença.  Esse pensamento apoia-se no fato, por exemplo, de que o próprio apóstolo Paulo curou muitos enfermos (Atos dos Apóstolos 19:11-12; 28:8-10), mas não curou enfermidades específicas de pessoas tão importantes no seu ministério como Timóteo (1 Timóteo 5:23) e Trófimo (2 Timóteo 4:20). Contudo, assim como ocorre na manifestação de qualquer dom espiritual, a realização da cura está sujeita não à atuação daquele que possuí o dom, mas tão somente, e primordialmente, à soberania divina. Quem cura não é o homem, mas Deus.

Algo que precisa ser considerado sobre o dom de cura é que ele pode ser operado independentemente da fé daquele que recebe a cura, como por exemplo, na cura do coxo, realizada por Pedro e João na porta do templo (Atos dos Apóstolos 3). Quando Pedro pede ao coxo que olhe para ele e João, o homem enfermo de nascença não manifesta nenhuma reação de fé, pelo contrário, o texto afirma o seguinte: “ele os olhava atentamente, esperando receber alguma coisa” (v.5). Outro exemplo, dentre muitos, foi quando o próprio Senhor Jesus curou um homem paralítico à beira do tanque Betesda (João 5:1-9). Quando Jesus pergunta ao homem se ele gostaria de ser curado, a resposta do enfermo foi enfática: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada” (v.7). Ou seja, a esperança do homem ainda estava na possibilidade de ser curado pelas águas agitadas do tanque e não no poder de Jesus. 

Isso levanta uma questão relevante para os dias que vivemos: em meio à explosão de curas milagrosas que se presencia, principalmente nos cultos televisionados, por que aqueles que dizem possuir os dons de cura não curam todas as pessoas, se o fator fé da parte do enfermo não é relevante?

Sobre o assunto John MacArthur comenta:

 

Por que os líderes carismáticos não reúnem todos que alegam possuir dons de cura e os deixam sair e ministrar onde existem as pessoas mais necessitadas. Poderiam começar por hospitais e casas de saúde da vizinhança; depois dirigem-se aos quatro cantos da terra. [...] No entanto, os curandeiros raramente saem das suas tendas, locais de reunião ou estúdios de televisão. Sempre parecem exercer seus dons em ambientes controlados, comportando-se de acordo com a programação[...] Por que não há pessoas que curam usando seus dons nas ruas da Índia ou Bangladesh? Por que não estão nos leprosários e nos hospitais, assistindo a vítimas da AIDS, onde milhares de pessoas são afligidas por doenças?”  

 

No entendimento cessacionista  de MacArthur, o dom de curar foi um sinal temporário para autenticar as Escrituras como Palavra de Deus. Logo que isso ocorreu, este dom cessou.  Isso não quer dizer que Deus não cure mais as pessoas, pois o seu poder se manifesta ainda hoje, mas parece não haver mais homens em nossos dias que apresentem de uma forma veraz a capacidade de curar enfermos, segundo o exemplo dos apóstolos.   

 

OPERAÇÕES DE MILAGRES

“A outro, operações de milagres” (1 Coríntios 12:10). Para uma melhor compreensão do assunto é importante compreender o conceito de milagre numa perspectiva bíblica. E o que se define é que a palavra “milagre” geralmente denota um fato sobrenatural, que transcende os acontecimentos comuns e prováveis e é encarado como resultado direto de um poder sobrenatural, no caso o poder de Deus.  

A Bíblia está repleta de exemplos de manifestações milagrosas operadas pelo homem, através do poder de Deus. No Antigo Testamento poderíamos citar muitos exemplos, mas gostaria de me deter a um personagem em especial: Eliseu. Quando seu mestre, Elias, antes de ser tomado a Deus pergunta o que Eliseu gostaria de receber, o sábio aprendiz pede porção dobrada do Espírito que operava em seu mestre (2 Reis 2:9). Parece que Eliseu recebeu, pois o descrever da sua história demonstra muitas manifestações sobrenaturais operadas pelo poder de Deus na vida do profeta. Os milagres operados por Eliseu não se limitam a curas, como vemos: poder sobre a natureza (2 Reis 2:23-24), multiplicação de alimento (2Re 4:1-7), profecia de nascimento de uma criança (Rs 4:16), ressureição de mortos (2Re 4:32-37), cura de enfermidade (2Re 5:10-14), quebra das leis da física (2Re 6:6) e cegueira de um exército inteiro (2Re 6:18).

No Novo Testamento cabe o papel de destaque a Jesus. É interessante que Jesus aparece num período da história do povo judeu, marcado pela ausência de sinais e maravilhas entre o povo. Depois de um período de mais ou menos 400 anos (433–5 a.C.), conhecido como período intertestamentário e descrito como anos “silenciosos”, aparece um “profeta” operando sinais maravilhosos entre o povo, a começar numa festa de casamento onde transforma, de uma forma sobrenatural, água em vinho (João 2:1-10). Mas por que Jesus operava milagres? Deixando um pouco de lado a questão da compaixão, o amor do Mestre e sua divindade, vamos pensar um pouco no contexto cultural e religioso em que ele estava inserido. Um profeta, tanto no período do Antigo Testamento quanto no tempo de Jesus, só era reconhecido pelo povo se operasse algum milagre. Temos o exemplo de quando Deus comissiona Moisés para liderar o povo hebreu na saída do Egito. O Senhor concede a Moisés três sinais milagrosos para dar autenticidade e autoridade à missão do líder e profeta. (Êxodo 4:1-9). Não foi diferente com Jesus; os milagres eram realizados para comprovar que ele era vindo de Deus, como testificou um grande religioso de sua época: “sabemos que és Mestre vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João 3:2).

Observando o assunto com uma visão cessacionista vemos que, da mesma forma, a operação de milagres na igreja primitiva servia como credencial dos servos de Deus (Hebreus 2:1-4), dando a autenticidade e autoridade necessária ao Evangelho. Entretanto, notamos que o livro de Atos, bem como a própria história da igreja, revela que os sinais miraculosos foram diminuindo com o passar dos tempos.  Isso não significa que hoje os milagres cessaram e que a continuação de semelhante manifestação divina desapareceu. Tampouco se pode afirmar que Deus não opere milagrosamente, por mais incomum que seja a situação; o que precisa ser considerado é se o dom de operação de milagres ainda está sendo outorgado na atualidade, e se está, é necessário averiguar se seu objetivo é dar autoridade e poder ao evangelho e não ao homem. 

 

CONCLUSÃO

Podemos concluir este estudo citando novamente as palavras de Paulo ao introduzir o assunto dos dons espirituais: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1 Coríntios 12:7). E isso é realidade. Deus concedeu os “dons de poder” aos homens visando à divulgação do Evangelho a toda a criatura. A promessa de que os discípulos receberiam poder para servir a Deus e cumprir sua vontade (Lucas 24:49) se cumpriu. Os dons de poder concedidos aos cristãos em Cristo testificam que a força da Igreja está no poder do Espirito Santo e não nos méritos do homem. O Espírito Santo ainda continua a atuar sobre nós, realizando todas as coisas conforme lhe apraz e não conforme desejamos (1 Coríntios 12:11). Não se frustre se você não tem o dom da fé extraordinária, tampouco o poder para curar enfermos ou operar milagres. O Espirito visa a um fim proveitoso. Talvez o que a nossa geração está precisando não é a fé que “remove montanhas”, mas a fé que move os corações à salvação. Tampouco esta geração precisa da cura física – isto tem sido feito em grande escala e não tem resolvido o problema – a cura espiritual são poucos os que se preocupam em ministrar. E acredito que o maior milagre que podemos vivenciar não é uma estátua chorar sangue, mas ver um pecador chorar arrependido.

 

 

 

 

 

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